sábado, 14 de novembro de 2009

mapas mentais

Walther Hermann e Viviani Bovo

Sinopse

Um texto rápido sobre as potencialidades de estudantes, pais ou educadores transformarem a vida escolar, própria ou de suas crianças, numa época mais produtiva de desenvolvimento de habilidades de fixação de conhecimentos. Mesmo que não guardemos muito boas lembranças de nossos esforços escolares e que não lembremos muito bem como memorizar ou aprender, esse artigo pretende apontar para a possibilidade de resgatarmos pelo menos uma boa parte de nossas competências de aprendizado e de gerenciamento de informações, cada vez mais valiosas – sendo que os segredos talvez estejam logo nos nossos primeiros anos escolares.

Contexto

Se avaliarmos os manuscritos de algumas das mentes mais brilhantes que conhecemos, talvez nos surpreendamos com o fato de muitos deles não utilizarem única e exclusivamente a palavra como forma de expressão e registro de informações. Leonardo Da Vinci, Einstein, entre muitos outros, tinham o hábito de anotar seus pensamentos, invenções, descobertas e conhecimentos através de símbolos, ilustrações, gráficos, flechas, ícones, além das palavras. Registros que mais se pareceriam com rascunhos ou mesmo as folhas dos cadernos de alunos que desenham durante as aulas. Pesquisadores do aprendizado hoje comprovaram que diferentes formas de expressão gráfica podem indicar um repertório maior de estratégias mentais envolvidas no processamento cerebral de informações e conhecimentos. Segundo pesquisas, essa é a principal diferença que faz a diferença entre aqueles excelentes alunos que, curiosamente, não são os que mais se esforçam!

Artigo

Hora de fazer o dever de casa! Que hora mais desesperadora para muitos adultos e crianças. Você já deve ter se deparado com a cena de uma criança sentada à mesa, cabeça apoiada nas mãos, totalmente desmotivada em frente ao seu caderno ou livro, com a grande incumbência de fazer sua lição de casa. Nessa situação muitas vezes ela grita por socorro, e lá vai você, normalmente o adulto mais próximo, aventurar-se em ajudá-la. Como você também já passou pelo mesmo processo quando era criança, a primeira coisa que pensa é “Isso é realmente uma tortura, porque será que fazem isso com as crianças?!”. Mas como não pode dizer o que pensou para seus filhos, respira fundo com autoridade e coragem dizendo: “Vamos lá... Você tem que fazer isso, é preciso. Lembre-se que é sua única obrigação como criança”, assim, juntos, fazem daquela próxima hora um verdadeiro sacrifício a dois.

O que normalmente acontece nessa hora é o seguinte, você começa a ler o material de estudo em voz alta junto com a criança, que parece estar atenta, mas a cabecinha dela talvez esteja voando longe. Quando acaba de ler, pergunta se ela entendeu, só por desencargo de consciência, pois você já sabe que a resposta é “não”. Então, do seu jeito, tenta explicar-lhe usando os exemplos do livro e, quem sabe, talvez ainda peça para a criança copiar a lição para poder “decorar” tudo.

A criança até faz tudo aquilo que você mandou, mas com a cabeça na liberdade e diversão que vêm depois disso... E o que resta daquilo que ela estudou? Ou repetiu? Talvez alguma coisa para a próxima prova. Mas para o futuro, que ela possa levar consigo durante mais tempo? NADA!

E tudo o que a criança precisava era de uma boa dose de motivação e diversão, que faria toda a diferença. Mas não se sinta mal por isso, afinal de contas você também não deve ter tido isso dos seus pais, e somente lhe sobra a possibilidade de fazer da mesma forma que aprendeu.

Porém se você deseja ou imagina que tudo poderia ser diferente, só não sabe como, relaxe e continue lendo.

O que a criança quer? Ela quer brincar, quer que as coisas sejam agradáveis e interessantes, e se assim for, aprender é uma conseqüência agradável, e não um objetivo árido.

As crianças amam os lápis e as canetas coloridas, papéis em tamanho grande para serem pintados e rabiscados, assim como os desenhos e a liberdade de fantasiar. Se ainda tiverem companhia para tais aventuras, então muitas se realizam com muito pouco. Então por que você não aproveita tudo isso a favor de ambos? Do aprendizado, da motivação e da diversão dela, enquanto ainda pode tornar as coisas mais fáceis e alegres para si mesmo(a).

Como fazer isso? É muito simples: utilize os Mapas Mentais. Não precisa se preocupar em saber fazer para começar, primeiro você começa e depois que estiver colhendo os resultados com certeza vai querer saber mais sobre essa ferramenta, até acabar descobrindo que é utilizada desde crianças até executivos de grandes grupos empresarias. É uma excelente ferramenta de gestão de informações e de desenvolvimento do raciocínio, enquanto possui uma estrutura valiosa para absorver a atenção e melhorar a qualidade da memória.

Imagine algo simples, muito simples, que qualquer professor de escola poderia utilizar a seu favor, embora normalmente desperdice apenas por ignorância: “O que aconteceria se cada uma das crianças que desenham durante os estudos, aproveitasse essa inclinação ou dom naturais para elaborar ilustrações ou desenhos relacionados com a fixação dos conteúdos da aula?” E se todas aquelas cores e formas, que tanto atraem a atenção infantil, estivessem relacionadas com a necessidade de seus cérebros representarem os conteúdos também numa forma que fosse absorvida pelos seus sentimentos e percepções subjetivas, processadas pelo hemisfério cerebral direito?

Talvez você concorde conosco que a habilidade de pintar ou desenhar que possuímos na infância e adolescência poucas vezes sobrevive às investidas inibidoras de nossa cultura de hemisfério cerebral esquerdo (racionalista e lógica), graças ao esforço de alguns de nossos professores escolares em nos dissuadir de desenvolver tais competências... E se isso pudesse ser utilizado a nosso favor. Possivelmente muitos de nós não teriam se tornado “analfabetos” em cores, formas, desenhos e representações gráficas. Talvez também fosse possível utilizar a música (ou qualquer outro estímulo que seja processado pelo nosso hemisfério cerebral direito) como “instrumento” de focalização de atenção nos estudos, tal qual fazem alguns adolescentes para estudar, cujo rendimento escolar é digno de nota.

Voltando para a nossa criança, como você deve então utilizar os Mapas Mentais? Aqui vão as dicas para você começar a lidar com os deveres de casa de forma divertida e atraente para as crianças e também para si, quem sabe, já que nunca é tarde para resgatarmos nossas habilidades adormecidas:

- Você vai precisar do seguinte material: folhas de papel branco de preferência grandes (A3 ou maior), que você deverá usar na horizontal, muitos lápis e canetas coloridas, recortes de jornais e revistas velhas, adesivos e talvez um tubo de cola;

- Como estudar com a criança passo a passo: você identifica os conteúdos a serem tratados no dever de casa ou na matéria a ser estudada para a prova. Em seguida convida a criança a representar os conceitos-chave do assunto com desenhos ou figuras. Isso é muito divertido se você permitir que a criança faça qualquer tipo de ilustração que represente, para ela, o conceito, mesmo que seja algo abstrato ou o desenho dela seja absurdo – isso não importa. O que mais vale é estimular a criança a se relacionar com o material de forma divertida e criativa, enquanto focaliza sua mente no contexto que lhe servirá de “porta” de acesso aos ambientes mentais nos quais guardará seus conhecimentos, tirando assim o peso da obrigação e ficando na atmosfera de brincadeira cujos sentimentos sejam bons e podem absorvê-la e entretê-la por horas seguidas;

- Depois que tiverem desenhos ou figuras para representar os principais conceitos ou palavras da matéria, convide a criança para começar a montar o Mapa Mental na folha de papel grande... Veja como fazer no exemplo prático que descrevemos abaixo.

Quando o Mapa Mental estiver pronto, você irá se surpreender ao notar que a criança já terá absorvido o conteúdo, enquanto esse mesmo Mapa servirá como material de estudo para ela em próximas ocasiões, não havendo mais a necessidade de recorrer à leitura de todo o material. Outra vantagem é a facilidade com que ela vai memorizar os conteúdos, pois ao utilizar as palavras e os desenhos coloridos para representá-los, estará utilizando todo seu potencial cerebral, ou seja, o hemisfério cerebral esquerdo estimulado pelas palavras (forma linear) e o hemisfério cerebral direito estimulado pelos desenhos e cores. Essa é talvez, a maior diferença das pessoas geniais, elas usam todo o seu potencial, e não apenas a metade dele.

Pense agora a respeito dos valiosos dados colhidos numa pesquisa realizada ao longo de mais de vinte e cinco anos por cientistas do comportamento da Utah University. Testes de criatividade realizados pelo Dr. Calvin Taylor, apresentados no livro do Dr. George Land (“Ponto de Ruptura e Transformação”), indicam uma realidade impressionante: oito tipos de testes de criatividade aplicados num universo de aproximadamente mil e seiscentos indivíduos avaliados em diferentes fases da vida evidenciaram o seguinte: 98% de um grupo de crianças comuns, cuja idade se situava entre três e cinco anos, apresentaram desempenho de criatividade correspondente à genialidade; posteriormente, 32% das crianças, entre oito e dez anos, possuíam grau de gênio; apenas 10%, entre treze e quinze anos, ainda permaneciam “gênios”; e, finalmente, restaram apenas 2% dos jovens adultos acima de vinte e cinco anos com essas competências. Seriam esses dados as evidências que precisamos para projetar uma nova escola?

Agora vamos dar um exemplo prático de como você pode estudar com a criança de forma divertida e muito mais efetiva. Nesse exemplo vamos utilizar um item bem simples do estudo da nossa gramática - vozes verbais. E passo a passo, vamos montar um estudo atraente para a criança, baseado no Mapa Mental:

- verifique qual a matéria ou conceito a ser estudado pela criança. No nosso exemplo, as vozes verbais da Gramática Portuguesa, que são: voz ativa, voz passiva (sintética e analítica) e voz reflexiva (reflexiva e reflexiva recíproca);

- com uma simples passada de olhos pelo livro de gramática você já percebe quais são as palavras chaves que a criança deve aprender, e o que elas representam – dê atenção especial aos negritos, subtítulos e títulos, pois normalmente eles servem para destacar informações;

- sem ler ou explicar previamente a matéria contida no livro de gramática, convide a criança a fazer um desenho, ou encontrar uma figura que represente cada uma dessas palavras: “vozes”, “verbais”, “ativa”, “passiva” e assim por diante – se necessário, explique-lhe o significado das palavras utilizando analogias e metáforas (outro importante recurso de ensino muitas vezes esquecido);

- a criança utilizando-se dos lápis e canetas coloridos desenha o que lhe vem à mente, como já explicamos um pouco antes;

- quando já tiverem alguns desenhos ou gravuras, podem iniciar a confecção do Mapa, pegando uma folha de papel branco de tamanho grande, utilizando-a na horizontal, na qual a criança escreverá bem no centro, com poucas palavras o tema do estudo – no nosso exemplo ela escreverá “vozes verbais”, depois ela desenhará ou colará, bem próxima a essas palavras, o que ela havia criado antes. Para que palavras e desenhos mostrem que são um conjunto de informações, a criança ainda pode envolver esses desenhos e palavras com um círculo, ou com o desenho de uma nuvem, ou ainda um quadrado;

- com um pouco de explicação ou recordação do que a criança já aprendeu na sala de aula, o adulto pode lembrá-la que as vozes verbais estão dividas em três grupos, e propor que sejam colocadas no Mapa. Para isso a criança desenha três linhas grossas que saem do centro (tema), e em cima de cada linha coloca a palavra que representa cada uma das três divisões. Em seguida ela completa com os desenhos ou figuras para cada palavra, que já fez previamente;

- A divisão principal do Mapa Mental então está pronta, agora vamos para subdivisões, procedendo da mesma forma, incluir duas linhas ligadas à linha onde está escrito “passiva”, de forma que possa incluir suas subdivisões: sintética e analítica. Ela deve fazer o mesmo para “reflexiva”;

- Quando a estrutura toda do Mapa estiver pronta, então você pode brincar um pouco com a criança com os exemplos, fazendo como um teatro, de forma divertida onde ela possa participar repetindo ou falando o contra-exemplo daquilo que você fala. Por exemplo: na voz ativa “Eu mordo a sua bochecha”, se ela revidar, ai vem o exemplo da passiva “Minha bochecha foi mordida por um tigre feroz”, e assim por diante. Note que algumas crianças fixam ainda mais as memórias caso sua motricidade ou suas sensações sejam também estimuladas, assim, ao expressar que morde a sua bochecha, por que não brincar de morde-la ao mesmo tempo? Assim que perceber que a criança já falou frases que contenham os três tipos de vozes verbais, então solicite para ela escrever as frases em papeizinhos coloridos e recortados em diferentes formatos (oval, nuvem, retângulo, etc) – “post it” podem ajudar bastante nesse momento;

- Volte para o Mapa e explique onde colocar cada uma das frases dos papeizinhos, que são os exemplos das vozes verbais. Onde se encaixam no Mapa Mental. Ao mesmo tempo providencie que sejam colocados ou colados pela criança na divisão onde devem estar.

Agora veja tudo isso depois de pronto como ficaria em um Mapa Mental:

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Legal não é mesmo? Está achando divertido e colorido? Imagine então uma criança o que vai achar! Ela não vai nem perceber que estudou durante esse tempo, pois para ela vocês estavam brincando. Além de obter um rendimento de estudo muito melhor para ela, você será a pessoa mais querida e requisitada para ajudar nos deveres de casa – em breve ela saberá fazer isso tudo com autonomia, enquanto transforma o seu estudo numa oportunidade de prática de várias formas de representar a linguagem que lhe serão extremamente úteis no futuro!

Note que qualquer matéria pode ser estudada com Mapas Mentais, que comprovadamente é uma “ferramenta” poderosa para qualquer tipo de pessoa, não só crianças, como já mencionado. Só para você ter uma idéia do poder dessa ferramenta chamada Mapas Mentais, atualmente ela vem sendo utilizada como auxiliar no estudo para crianças com dislexia, com resultados maravilhosos. Se você quiser ler mais sobre isso visite o site da BBC News e leia uma matéria datada de 14/Abril/2002.

Experimente transformar os deveres de casa em atividades motivantes, divirta-se e depois conte-nos os resultados!

Se quiser poderá nos enviar cópias dos Mapas Mentais que construir junto com suas crianças, pois assim poderemos incluí-los em nosso arquivo, e eventualmente publicá-los no site, como exemplos para outros tantos pais, tios, tias, avós que poderão motivar-se a transformar o momento do dever de casa em diversão.

Conclusão

Mesmo que você tenha estacionado seus dons artísticos naqueles desenhos de sóis, pássaros e casinhas no campo, sem perspectiva ou profundidade, não se lembrando de como combinar melhor as cores, saiba que tais estratégias de expressão podem ser desenvolvidas a partir de onde você parou. Quer você decida ou não buscar o desenvolvimento de tais estratégias mentais a partir de agora, é importante que você tenha em mente que poderá proporcionar aos seus alunos ou filhos uma vida escolar mais produtiva e de menor esforço em decorar ou memorizar os conteúdos, pois, como adultos sabemos que a maior parte deles pouco nos serviram, exceto como informações que, muitas delas, já não correspondem mais à realidade.

Bibliografia

Bovo, V. & Hermann, W. – “Mapas Mentais – Enriquecendo Inteligências” – Edição dos autores

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